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XIII -
Duas pontes do Côa no caminho entre três vilas leonesas e duas vilas portuguesas
A partir de Ciudad Rodrigo existiam três ou quatro alternativas para quem se dirigia em direcção a Portugal, convergindo, depois de atravessar a fronteira, para a cidade da Guarda. Era no entanto necessário passar o Côa, que constituía o principal obstáculo em qualquer dos trajectos por que se optasse. Na zona sul do Riba Côa, a travessia daquele rio era facilitada pela existência de duas pontes medievais. Assim era possível entrar por Vilar Maior e atravessar o Côa na Ponte de Sequeiros ou então fazer a entrada na Aldeia da Ponte, depois de passar La Albergaria de Argañan, tomar o caminho para o Santuário de Sacaparte, onde também existia uma hospedaria, e atingir a vila de Alfaiates onde se podia optar por atravessar o Côa na ponte de Sequeiros ou então ir procurar a passagem na Ponte junto da vila do Sabugal.
Do outro lado do Côa, o caminho para a Guarda, em direcção a Norte, passava na vila do Touro mas era possível continuar para Oeste e chegar à vila de Sortelha a partir de onde se abria o caminho para Belmonte e a Beira Baixa.
É no início do séc. XIII que estas vilas surgem pela primeira vez mencionadas na documentação. Porém, tanto do lado português como do leonês, a maior parte das iniciativas régias reorganizadoras
foram aqui ligeiramente mais tardias do que na zona norte do Côa.
A vila do Sabugal constitui uma póvoa ou vila nova fundada pelo rei D. Afonso IX de Leão no início do séc. XIII só acompanhada pela criação de outras no final da década de 20. Talvez por este facto, o
termo que o rei lhe demarca é muito extenso, abrangendo áreas que depois vieram a constituir novos concelhos. A importância atribuída pelo poder régio leonês a este novo centro territorial foi grande,
tendo sido frequente local de passagem ou permanência do rei D. Afonso IX. Foi também por duas vezes no séc. XIII, local de entrevista dos monarcas português e castelhano. A primeira em 1224, quando Fernando III de Castela aqui se encontrou com Sancho II de Portugal e de que resultou, mais tarde, a devolução do castelo de Chaves em Trás-os-Montes 113. A segunda em 1288
114.
Do lado português, Sancho I procurou opor à criação da vila do Sabugal a vila de Sortelha para o que fez trazer povoadores de Valença, no Alto Minho. No entanto, seria só em 1228 que Sancho II concederia carta de foral aos povoadores daquela vila
115.
Entretanto surgia entre a Sortelha e a Guarda a vila do Touro, que recebeu foral do mestre da Ordem do Templo em 1220 com o apoio do rei Afonso II de Portugal. No Riba Côa leonês, no final da década de 20, várias povoações anteriormente integradas no termo do Sabugal receberiam foral de Afonso IX como Alfaiates, em 1226, Vilar Maior, em 1227, e ainda talvez Caria Talaia. A protecção do poder régio leonês à vila do Sabugal, porém, parece ter decidido Fernando III em 1231, no sentido de reintegrar novamente no termo do Sabugal, Caria Talaia e Vilar Maior
116.
Com o Tratado de Alcañices e a incorporação das vilas leonesas do Riba Côa no reino de Portugal, observamos que o Sabugal continuava a ser o mais importante centro do poder régio na zona sul do Côa, deslocando-se aqui frequentemente o rei D. Dinis (1291, 1297, 1298, 1300, 1304 e 1308
117
A este rei parece dever-se a construção do castelo daquela vila tendo encarregado Frei Pedro, do mosteiro de Alcobaça, de dirigir as obras que se estavam a concluir em 1302
118.
A vila do Sabugal ocupava já, naquela época, uma área considerável, tendo-se expandido para fora dos muros e dando origem a um arrabalde de grande dimensão, como se comprova pela doação
de umas casas do rei ao mestre da Ordem do Templo, em 1298, situadas fora da vila [extra-muros, no arrabalde] à porta que chamam do Barroso [um caminho de saída] na freguesia de Santa Maria Madalena
119. Aliás, o Rol das Igrejas, alguns anos depois, em 1320-21, inventariava seis igrejas paroquiais e uma ermida estando dentro dos muros apenas uma, a de Santa Maria.